Perdida em meus pensamentos pego o papel e o carvão e logo se forma a mais bela forma da beleza que vem da alma e encanta os olhos de todos a obra que nunca termina é inconstante como a vida
Mais uma noite terminada dentre tantas já vividas ou sobrevividas ao caos humano, que nos torna o nosso maior inimigo sigo em frente como o rio segue o seu curso com tantos obstáculos para desviar e mesmo assim insiste em continuar.
O vento bate desalinha meus cabelos, embaralha meus pensamentos que fazem rolar a lágrima que eu tentava controlar. Ela desce sem que eu sinta por todo o rosto indo até o pescoço, que já não tem mais o calor de teus beijos que penetraram na minha alma um dia e hoje só há uma ausência de corescomo o vestido preto que uso.
Não sinto fome Não sinto frio Não sinto medo Só quero escrever Escrever o que vem a mente Tenho tanto a falar Que sinto sede, Sede de tudo o que nunca vivi. Tenho gana de viver Viver tudo aquilo que me move que faz parte da minha essênciae que aflora a cada dia de minha existência A tua presença Me contagia com a força que tens de se lançar no mundo sem dúvidas, sem culpa de ser o que é e sem tempo a perder, pois o que passou, passou e serve de exemplo para novas tentativas de crescer, antes de mais nada como ser humano.
Olhar malicioso, penetrante e comovente Abraço minha calma Agora só de ti olhar me sinto dormente Falsa calma que não absorve a alma Apenas fuma penetravelmente. Nessa caminhada que não sabemos aonde vai parar E se danço a tua forma agora e sempre Palhaço de ti caço uma dúvida em tua alma ainda presente De poros, cuidados e inconsciência Naquele gole que não desce mais. E se deixar penetrar em minha alma tão sofrida pela sua falta que nesse momento clama pela tua presença Não faço mais força para dizer o que sinto Berrei e gritei um brado para fazer em teu peito o meu ninho De pés e bandeiras da mesa em que sempre bebo meu último gole ao lado de sua invisível presença.
Em uma comunhão nos entregamos aos intensos sentimentos e criamos - Ausência Sublinhada - Denise de Fraga, Raquel Gaio e Marcos Córdoba
Analisando a obra de Gil Vicente, de 1517 – O Auto da Barca do Inferno – No gênero literário satírico, selecionei um trecho que trata a passagem de um fidalgo que cometera atitudes impróprias em sua vida terrena e se prevalecendo de sua posição para tentar embarcar na barca divinal - “Que me leixeis embarcar. Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais” - e é lembrado pelo anjo de suas atitudes indignas e de desprezo que cometia contra o povo sofrido e queixoso, não lhe deixando embarcar – “Não se embarca tirania neste batel divinal”, só lhe restando a alternativa de embarcar no batel infernal em companhia de outros, que como ele, não tiveram atitudes dignas. E o arrais infernal, aguarda todos os candidatos com verdadeiro escárnio para lhes mostrar suas faltas, no seguinte trecho: “Embarque vossa doçura, que cá nos entenderemos... Tomarês um par de remos, veremos como remais, e, chegando ao nosso cais, todos bem vos serviremos”.Em um sentimento parecido com a obra de Gil Vicente, Zeca Baleiro, em sua composição – Heavy Metal do Senhor – cd “Por onde andará senhor Stephen Fry?”, 1997 – Mostra de forma irônica as diferenças entre Deus e o diabo, apontando a preferência pela imagem de Deus.Iniciando com uma contra cultura quando se refere ao cara mais underground que toca cover das canções celestiais, pois este sempre ficara em segundo plano, perante a sociedade católica, que acredita que a imagem de Deus é a do bem e a do diabo a do mau.Para justificar e moralizar a sociedade que deve ter uma regra de bom comportamento, assim como no auto de Gil Vicente, que cobra de todos os personagens que vão chegando para o embarque serem julgados pelo anjo e pelo diabo dos atos cometidos em vida, Zeca também expõe o julgamento pelo comportamento humano no refrão em que diz: “os santos pedem para deus rolar um som maneiro e Deus manda um som pesado”, como se o significado do “som pesado” fosse o castigo pelos erros cometidos por aqueles que querem um castigo leve, pedindo um som maneiro.E por fim, quando Baleiro diz que “a banda cover tá por fora e o mercado tá de olho no que deus criou” - refere-se aos ensinamentos sagrados que são passados de geração em geração através das religiões que ditam o comportamento do bom cristão e a melhor conduta para com seus semelhantes.
A comparação entre a obra de tradição luso-brasileira de Gregório de Matos Guerra - Obra Poética "Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Angela" - e a canção de um artista contemporâneo, Zeca Baleiro – “Quando ela dorme em minha casa”, encontramos o sentimento do “eu lírico”, o homem apaixonado, completamente entregue a paixão que o cega e o envolve no mais profundo prazer em desfrutar da companhia da mulher amada e uma enorme apatia, quando ela se vai.Gregório enaltece a mulher amada comparando- a a uma arquitetura e prefere não mais enxergar a perder o controle de seu estado de consciência em relação a esse amor.Já Zeca Baleiro, sente uma sensação de harmonia e paz ao ter o ser amado em sua casa e sabendo que essa tem um futuro a conquistar e se vai, vive de lamentos até a chegada de outra para colocar em seu lugar.
Edição de Referência:Obra Poética, de Gregório de Matos, 3ª edição, Editora Record, Rio de Janeiro, 1992.
Referência musical:Cd Balada do Asfalto & outros blues, ano 2005, de Zeca Baleiro.
Hoje é uma linda manhã de domingo e estou lendo um pouco sobre Edvard Munch (1863 - 1944) que ainda menino perde sua mãe de tuberculose e em 1877 sua irmã Sophie de quinze anos, da mesma forma. De uma certa maneira estes acontecimentos foram essenciais em seu crerscimento artístico. O artista tenta pintar, de forma incansável, em sua obra O Friso da Vida, aspectos inerentes ao ser humano. É por isso que me identifico com o seu trabalho, pois meu estado atual é de intensa busca pelo significado de estar vivo. Tem uma obra do pintor que muito me emociona - O Grito (1893) - nela encontramos o tema central de Munch, o medo e a solidão do homem que faz ecoar o grito.
Já é noite Enquanto todos dormem sem culpa Eu ainda escrevo Sem saber o que sou e o que espero Dessa caminhada incansável Em busca do que muitos chamam de felicidade Se é que existe... Quando me deitar quero fazer como tu Dormir sem culpa de encontrar a felicidade em poucos gestos, em poucas palavras e em novos amores.
Acredito viver bem, até o momento que me encontro parada no mesmo ponto. Seré que tem que ser sempre assim? A minha lucidez expõe minhas fraquezas e medos que tento esconder de mim mesma, para sobreviver no meu fundamentalismo pessoal. Por isso vivo cada vez menos o meu momento de lucidez, me embrenhando no universo paralelo a minha razão, vivendo de sonhos que busco para realizar esse pacto que fiz com meu interior insano. Que me deixa à deriva na busca pelo que sou, pelo que quero ser e o que consigo ser.